"Terrível! Esta fronteira de pedra ergue-se...
ofende os que desejam ir para onde lhes aprouver
não para um túmulo de massa/ um povo de pensadores."
Volker Braun, 1965
Nas primeiras horas do dia13 de agosto de 1961, a população de Berlim, próxima à linha que separava a cidade em duas partes, foi despertada por barulhos estranhos, exagerados. Ao abrirem suas janelas, depararam-se com um inusitado movimento nas ruas a sua frente. Vários Vopos, os milicianos da RDA (República Democrática da Alemanha), a Alemanha comunista, com seus uniformes verde-ruço, acompanhados por patrulhas armadas, estendiam de um poste a outro um interminável arame farpado que alongou-se, nos meses seguintes, por 37 quilômetros adentro da zona residencial da cidade. Enquanto isso, atrás deles, trabalhadores desembarcavam dos caminhões descarregando tijolos, blocos de concreto e sacos de cimento. Ao tempo em que algum deles feriam o duro solo com picaretas e britadeiras, outros começavam a preparar a argamassa. Assim, do nada, começou a brotar um muro, o pavoroso Mauer, como o chamavam os alemães.
O fracasso do socialismo russo foi se somando às possibilidades de desconstrução daquela obra fria e abominável. No ano de 1973, as duas Alemanhas reatam os seus laços diplomáticos. Na década de 1980, os oficiais da RDA permitiram que o outro lado fosse visitado somente após uma complicada avaliação do pedido e o pagamento de um pedágio de 25 marcos. Nessa mesma época, várias pichações anônimas e a declaração oficial norte-americana defendiam a extinção do Muro de Berlim.
O absurdo segregacionista demonstrava claramente que o socialismo burocrata soviético não seria capaz de impor uma ampla e natural zona de influência política entre os alemães. Além disso, enquanto o “milagre econômico” (mais conhecido como “Wirtschaftwunde”) dos ocidentais se tornava realidade, o lado controlado pelos soviéticos experimentava uma época de retração em que o parque industrial encolhia e as condições de vida se tornavam mais difíceis.
Em 9 de novembro de 1989 o governo da então Alemanha Oriental, comunista, decidia abrir suas fronteiras e destruir o Muro de Berlim, precipitando o colapso dos regimes do leste europeu. Para muitos, esse fato encerrou definitivamente a 2ª Guerra Mundial, já que esse Muro era parte da herança desse conflito, e da Guerra Fria entre as superpotências militares de então: Estados Unidos e a ex-URSS. Precipitadamente, o historiador norte-americano Francis Fukoyama viu nisso o "fim da história", com o domínio absoluto do mercado e do ideário neoliberal. Já o sociólogo alemão Robert Kurz2 via nesse fato não esse fim, mas o início do colapso do que ele chamou "sistema mundial de mercadorias", que teria tido no Leste Europeu a sua versão estatizante, mas que seria parte integrante do sistema maior, o capitalismo. Esse começou a entrar em colapso nessa região, como também entrara em outras regiões periféricas. De um lado, portanto, esse fato foi interpretado como o "fim das ideologias", já que restava apenas uma após a queda desse Muro. De outro, a interpretação de que o que ruiu não foi apenas um muro famigerado e o sistema comunista, mas uma fração do próprio sistema mundial e que esse processo acabará arrastando no curso do tempo todo o sistema.
Com o fim desse Muro e o colapso do sistema comunista do Leste Europeu, estatizado e de planejamento centralizado, começou a soprar mais forte o vento da globalização, sem barreiras. O final de século revela um panorama de mudanças e muitas incertezas, ainda que a queda do referido Muro tenha sugerido um mar de águas tranqüilas. Nesse sentido, o historiador inglês Eric Hobsbawn3 afirma que "um dos riscos atuais é que o capitalismo tenha perdido seu sentimento de medo. Aceitam-se níveis de desigualdade antes não tolerados"4 .
Notas:
1 Sociólogo, professor da UESC, responsável técnico pela Sócio Estatística. www.socio-estatistica.com.br2 Robert Kurz é autor dos livros O colapso da Modernização, editado pela Paz e Terra, e Os Últimos Combates, editado pela Vozes. É também colunista mensal do caderno Mais, da Folha de São Paulo.
3 Historiador inglês, autor de muitos livros, dentre os quais A Era das Revoluções (1789-1848) e Era dos Impérios (1848-1875) editados pela Paz e Terra e Era dos Extremos (1914-19910) editado pela Companhia das Letras.
4 Em entrevista concedida ao Clarin, Argentina, e republicada pela Folha de São Paulo, 1º de janeiro de 1999, 1-12.
Bibliografia:
GASPARETTO. Agenor. 10 ANOS DA QUEDA DO MURO DE BERLIM, GLOBALIZAÇÃO
E REGRAS DO COMÉRCIO MUNDIAL. Publicado na Revista SBPM – Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado. Maio 2000. Ano III, nº 11, pp. 32-37.
Site: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_cultura.htm acessado em 13/03/2012 ás 12h. Por SCHILLING, VOLTAIRE.
Site: http://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/a-construcao-do-muro-de-berlim.htm Acessado em 13/02/2012 as 12h.
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